Texto produzido pelo Prof. Gillianno Mazzetto – Reitor da UniCatólica
Por muitos anos, durante a minha infância e adolescência estudei e pratiquei artes marciais. Kenjutsu, Iaido, Kung Fu.
Nestas artes uma das virtudes que, a cada encontro, buscávamos aprender e praticar era o estado de Mu (vazio) Shin (mente), o estado de mente vazia, ou não-mente como alguns gostam de traduzir.
Porém, porque este estado é tão importante para os artistas marciais e o que ele pode e tem contribuído no meu trabalho como líder?
Todas as vezes que iniciamos uma competição, uma “batalha” como se diz no Dojô (lugar de treino) o primeiro adversário a ser superado é você mesmo.
Cotidianamente, quando me coloco na posição de seiza (posição tradicional japonesa) toco o meu sino tibetano e bato as três palmas para espantar os espíritos maus, essa virtude me vem a mente, fazendo-me relembrar a máxima ensinada por um dos meus mestres:
Para aprender é preciso desaprender, para se abrir é preciso se esquecer
E funciona justamente assim. O estado de cultivo da não-mente ou da mente vazia é a capacidade de, aos poucos, ir se abrindo ao ambiente e ressoando com ele. Isso para mim tem sido tão importante que até emoldurei o meu tenugui (pano que usamos sobre a cabeça, debaixo da armadura) e coloquei-o no meu escritório de tal forma que, todos os dias, ele possa me ensinar. Inclusive na foto vocês podem me ver no reflexo.
Agora vamos para a parte prática: Como o Mushin pode ajudar na resolução de conflitos? Elenco alguns pontos.
1º O mushin me ensinou que ao receber ou encontrar qualquer pessoa devo estar aberto a ela. Não importa aquilo que eu penso ou a imagem ou pré-conceitos que tenha. Importa a singularidade daquele momento.
2º A mente vazia me ajuda a estar aberto e ver as oportunidades que aquele instante pode me oferecer. Quantas vezes não conseguimos ver as coisas porque estamos muito aficionados. Como diz um velho sutra chinês: “uma mente incondicionada (não aficionada) traz alegrias sem limites”.
3º Em geral os conflitos aumentam porque não conseguimos alcançar o núcleo da questão e, por isso, potencializamos as nossas emoções. O estado de mente vazia me ajuda a cada encontro, me perguntar: Quais são as oportunidades e os pontos cegos que estão ocorrendo nesta conversa?
Por fim, nem sempre dá certo. É por isso, que aprendemos desde o primeiro dia no Dojô que o caminho marcial é um diálogo consigo e por meio de si mesmo.
Hoje, ao escrever este artigo, olhando para o tenugui emoldurado na minha parece relembro cada vez que, ao buscar o estado de mushin, o que eu encontrei foi a bonita oportunidade de ser mais e profundamente, eu mesmo. E isso tem me ajudado muito.